O Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre é um projeto que busca visibilizar a comunidade afrobrasileira com a instalação de obras de arte em espaços públicos da cidade.



Formação

O desenvolvolvimento partiu de uma construção coletiva da comunidade negra local, onde sua falta de representatividade no patrimônio cultural remetia à invisibilidade social desta parcela da população. O projeto estabelece visualização e fruição de espaços marcantes para a etnia negra do ponto de vista da memória, da identidade e da cidadania, gerando percursos através da construção de obras públicas que referendem a passagem dos ancestrais por lugares territorializados pela comunidade negra na cidade de Porto Alegre. Paralelamente à construção das obras de arte públicas, a equipe do Museu mantém cursos de formação para jovens monitores, já tendo realizado duas edições, sendo a primeira na Escola de Saúde Pública em 2009 e a segunda no Quilombo do Areal em 2014. 



Execução

O projeto se constitui através da colaboração de diversas entidades do movimento negro, reunidas pelo Centro de Referência Afro-brasileiro. A primeira etapa do Museu de Percurso do Negro, concluída no ano de 2011, foi realizada por diversas entidades, sob a coordenação gestora do Grupo de Trabalho Angola Janga. Nessa etapa o Museu fazia parte do Programa Monumenta, do Ministério da Cultura (MinC), executado com recursos da União, de estados e de municípios, com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e cooperação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e da UNESCO. Na primeira etapa foram executadas as obras de arte Tambor e Pegada Africana. A terceira etapa foi protagonizada pela Congregação em Defeza das Religiões Afrobrasileiras - CEDRAB RS, e contou com recursos da Prefeitura de Porto Alegre para a execução da obra  de arte Bará do Mercado. A realização da quarta etapa conta com recursos oriundos do Prêmio Funarte de Arte Negra / MinC-Seppir, e inclui a execução da obra de arte pública Painel Afrobrasileiro, além da formação de jovens monitores do Quilombo do Areal e o lançamento de um catálogo. 



O Percurso do Negro em Porto Alegre 


O percurso visual em processo de execução evoca a presença, a memória, o protagonismo social e cultural dos africanos e descendentes no Centro Histórico da cidade de Porto Alegre, cuja pesquisa histórico-antropológica indicou os lugares vivenciados pelos negros, a fim de elaborar objetos de arte representativos, como no Cais do Porto e antigos Ancoradouros; no Mercado Público e seu entorno; no Largo da Quitanda (Praça da Alfândega); no Pelourinho (Igreja das Dores); no Largo da Forca (Praça Brigadeiro Sampaio) e Esquina do Zaire (Av. Borges de Medeiros com Rua da Praia). No entorno, a partir das redes de relações sociais dos negos cativos e livres, temos a Igreja da Nossa Senhora do Rosário, o Mercado Público e a Santa Casa de Misericórdia, a Colônia África e o Areal da Baronesa.

As Obras Públicas do Percurso do Negro

Obras de Arte no Espaço Público

Ainda no ano de 2009, o Projeto Monumenta reuniu um grupo de artistas para representar esteticamente os percursos sociais, históricos e culturais criados, mantidos e preservados pelos africanos e descendentes negros na cidade. Os artistas participam das oficinas sobre a História e a Arte Africana, a cultura negra, a arte afrobrasileira ou negro-brasileira, para criar propostas artísticas, a fim de expressar uma estética através de marcos representativos. Na primeira etapa do projeto, os artistas tiveram como embasamento a pesquisa histórico-antropológica, realizada pelo antropólogo Iosvaldyr Carvalho Bittencourt Júnior, somada aos saberes artísticos de matriz africana acerca das raízes históricas e da ancestralidade religiosa afrobrasileira por parte do grupo de artistas. Inicialmente foram desenvolvidas diversas oficinas de criação para a elaboração de propostas de marcos representativos da cultura negra, em Porto Alegre. 


Painel Afrobrasileiro 
etapa IV



















TÍTULO: PAINEL AFROBRASILEIRO
LOCAL : LARGO GLÊNIO PERES
CONCEPÇÃO: PELÓPIDAS THEBANO.
EXECUÇÃO : VINICIUS VIEIRA
TÉCNICA: MOSAICO CERÃMICO
INAUGURAÇÃO: 20 DE NOVEMBRO DE 2014, ÀS 16:30


Bará do Mercado 
etapa III























TÍTULO: BARÁ DO MERCADO
LOCAL : MERCADO PÚBLICO
CONCEPÇÃO: LEANDRO MACHADO E PELÓPIDAS THEBANO.
EXECUÇÃO : LEONARDO POSENATO, VILMAR SANTOS E VINICIUS VIEIRA
IDEALIZAÇÃO: MÃE NORINHA DE OXALÁ
MATERIAIS : BRONZE E PEDRAS
ANO: 2013


O Mercado Público faz parte dos “caminhos invisíveis dos negros em Porto Alegre”, e sua importância deve-se a preservação e culto ao Orixá Bará Agelu Olodiá assentado no centro do prédio. O Bará é, dentro do panteão africano, a entidade que abre os bons caminhos, o guardião das casas e da cidade, e representa o trabalho e a fartura. Os religiosos de matriz africana e frequentadores acreditam na força do axé do orixá, que garantiu a sobrevivência e a prosperidade do mercado ao longo de seus 244 anos, dando fartura aos transeuntes que passam no local e fazem seus pedidos. Os africanistas e simpatizantes, ao fazerem seus pedidos de abertura dos caminhos na terra para a fartura de comida na mesa e de prosperidade na vida ao Bará, jogam sete moedas, como certos da sua proteção. Com o passar do tempo, somam-se os testemunhos de pessoas que agradecem pelo pedido alcançado ao Bará do Mercado Público. O Orixá Bará é reverenciado por toda a comunidade de matriz africana no Estado. 

Mãe Norinha de Oxalá 
Fundadora e Presidente da Congregação 
em Defesa das Religiões Afro-Brasileiras - RS





Pegada Africana
etapa II

























TÍTULO: PEGADA AFRICANA
LOCAL : PRAÇA DA ALFÂNDEGA
ARTE : VINICIUS VIEIRA
MATERIAIS : AÇO-INOX E PEDRAS
ANO: 2011




Com méritos de nova inclusão, a manifestação
visível da “Pegada Africana” afirma a Praça
da Alfândega como um dos lugares de existência
do Museu de Percurso do Negro. Na praça, antigo
Largo das Quitandeiras, raízes históricas adquirem
nova visibilidade na forma de continente africano,
concebida a partir de uma linha formada por
sinuosos movimentos de matriz orgânica. 

Vinicius Vieira apresenta um desenho contemporâneo,
modelado em aço, que envolve e ressignifica as
pedras portuguesas do local, simbolizando a
concretização de políticas públicas que
resultaram da luta histórica por
reconhecimento das culturas étnicas. 


Miriam Chagas






Tambor
etapa I
















Praça Brigadeiro Sampaio, Porto Alegre
Arte: Gutê, Leandro Machado, Elaine, Mattos, Pelópidas Thebano e Xaplin.
Material: concreto armado
Dimensões: 1,2 x 2,75m   
Ano: 2010 

Concebido coletivamente, nasceu dos debates entre artistas e griôs (guardiões da memória), acompanhados com expectativa pelo movimento negro. O tambor, por certo o único instrumento que tocado por um ou por muitos comunica a alma do todo, é amarelo porque Oxum assim o quis. Apresenta 12 figuras que repercutem a trajetória de um povo: dor, alegria, luta e perseverança.

Pedro Rubens Vargas